O que aprendi fazendo Autorretratos Autotélicos

Entendo que cada pessoa absorve as experiencias passadas de sua maneira própria, então já digo que esse texto não é uma receitinha de bolo a ser seguida, mas uma bagagem pessoal em forma de dicas resumidas. Sem sombra de dúvida cresci mais em seis anos usando o autorretrato como uma ferramenta de expressão do que nos oito anteriores, onde só aprendia como fazer fotos bonitas. Criar um trabalho autoral sem ter como foco a monetização ou a estética, é uma desconstrução gigante. Não somente para o aspecto profissional criativo, mas para repensar profundamente sobre umas mil neuras pessoais que normalmente varremos para debaixo do tapete (para o desespero de todos os psicólogos).
Demorei um bom tempo para entender o que esse tipo de fotografia me ensinava na prática, e colocar no papel resumidamente me ajudou a entender e dar mais valor a essa ferramenta maravilhosa. Podia chamar esse texto de "6 motivos para você começar a se autorretratar" mas não quero pressionar ninguém mesmo sabendo que é uma maravilha hehehehehe :)
* Não depender mais de um cliente topar uma ideia, ou esperar por uma modelo/amigue disponível para posar é libertador. As produções que fazia começaram a ser mais frequentes por coloca-las em prática com rapidez, e essa frequência melhorou consideravelmente minha facilidade na hora da criação.
* As ideias passaram a ser um pouco mais "extremas", por não colocar ninguém além de mim em risco, e com isso, desenvolvi varias técnicas e testei outras tantas, só por não ter a limitação do medo de machucar alguém.
* Passei a ter mais tempo para desenvolver um bom projeto, por não ter dia marcado para executa-lo. Isso abriu a possibilidade de buscar e fazer objetos de cena com calma, até chegar na estética almejada, colocando a ideia em em prática somente quando tinha tudo que precisava.
* Essa liberdade também me deu tempo para lapidar as ideias, juntar pequenos conceitos que voavam pela cabeça até formar uma narrativa mais forte e coesa. Tornando a mensagem mais fácil de ser percebida pelas pessoas, mesmo quando não acompanhava um texto explicativo.
* O desenvolvimento desse processo me levou a entender que minha primeira ideia não era nem de longe a melhor, que ela era o inicio de uma linha de raciocínio que se puxada, trazia elementos e representações multifacetadas, proporcionando uma profundidade maior na narrativa.
* Aprendi a ver o meu, e todos os corpos, com um olhar grato e carinhoso. Focando na perfeição que é sentir e expressar sentimentos através de cada centímetro de pele, e não nas bobagens e limitações que somos construídos para acreditar por uma sociedade adoecida.
Todo esse caminho me levou a concluir que, o autorretrato nos permite sentirmos na pele como é ser fotografada por nós mesmos. Possibilita que o relacionamento de amor próprio seja mais intenso e isso influencia na forma que vemos a beleza do outro. Somos um espelho na hora de retratar alguém, e se aprendermos a nos enxergar com amor real ao nosso próprio corpo, a pessoa na frente da lente vai se ver por esse mesmo reflexo amoroso. Também compreendi que um trabalho autotélico é o que alimenta nossa evolução artística pessoal, a chave para fazer algo único, e se encontrar naquilo que você produz.
Sem criar para você, mesmo que ocasionalmente, a tendencia é se deixar levar pelo que os outros estão criando, fazendo comparações com a evolução alheia, aos invés de fazer uma linda caminhada usando os próprios passos.